Em apenas sete meses extraordinários, o governo de Donald Trump deixou uma marca sem precedentes nos Estados Unidos. Da reformulação das regras do livre comércio à subversão das normas do devido processo legal e ao desafio à ortodoxia científica, nenhum canto do país permaneceu intocado — incluindo o próprio centro de poder do presidente: o Salão Oval.
De acordo com o The Guardian, Trump retomou sua antiga carreira como incorporador imobiliário e hoteleiro ao aplicar alguns “toques Trump” à decoração do ambiente. Os resultados dividiram opiniões: enquanto alguns consideraram o novo visual um símbolo da “nova era de ouro” dos Estados Unidos, outros o compararam ao camarim de um lutador profissional.
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Em uma visita ao Salão Oval em março, o ex-presidente foi questionado por um apresentador da Fox News sobre os novos detalhes dourados. Descrevendo o espaço como algo que precisava de “um pouco de vida”, Trump explicou como é difícil fazer com que a tinta dourada pareça, de fato, dourada.
Mas, segundo o The Guardian, esse desafio não impediu o magnata de continuar suas reformas. Nos meses seguintes, a “dourada” se intensificou: os detalhes dourados invadiram o teto, os batentes das portas, a lareira e até os querubins esculpidos nas molduras.
Ao longo de sua administração, o número de troféus de ouro e vasos espalhados pela lareira se multiplicou — agora, até porta-copos com o nome de Trump exibem o brilho metálico. Um porta-voz da Casa Branca afirmou à Fox News que todo o ouro, “da mais alta qualidade”, foi pago pessoalmente pelo então presidente.
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O novo Salão Oval também ganhou mais pinturas. Trump aumentou o número de retratos de antecessores presidenciais para quase 20, enquanto Joe Biden mantinha apenas seis e Barack Obama, dois. O espaço é complementado por fotos da família Trump, uma cópia da Declaração de Independência e presentes de visitantes e simpatizantes — entre eles, o troféu da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, oferecido pessoalmente ao presidente.
Segundo informações obtidas pelo The Guardian, Trump contou com a ajuda de John Icart, um marceneiro de 70 anos da Flórida conhecido como seu “cara do ouro” pessoal. Icart teria sido levado a Washington no Air Force One para aplicar à Casa Branca o mesmo estilo de Mar-a-Lago, a mansão do ex-presidente em Palm Beach. A secretária de imprensa, Karoline Leavitt, chegou a descrever o novo ambiente como um “escritório de ouro para a era de ouro”.
Nem todos, no entanto, aprovaram o resultado. O músico Jack White comparou o ambiente ao camarim de um lutador, chamando-o de “vulgar” e “extravagante”. Já o repórter Jon Keegan observou que os medalhões decorativos nas paredes se assemelham muito aos acessórios vendidos no site chinês Ali Baba por cerca de um dólar a unidade.
Apesar das polêmicas, os artefatos dourados sobre a lareira têm origens mais nobres: muitos vieram do próprio acervo da Casa Branca, incluindo uma compoteira francesa do século XIX, urnas douradas doadas ao presidente James Monroe e peças de prata datadas da era Eisenhower.
O estilo de Trump, ainda conforme o The Guardian, foi inspirado no Salão dos Espelhos de Versalhes — o mesmo que inspirou o salão de baile de sua residência na Flórida. E, ao transformar o Salão Oval, Trump apenas levou ao extremo uma tradição antiga, na qual cada presidente adapta a decoração ao seu gosto. Nenhum, porém, parece ter levado essa personalização tão longe.
No fim de seu mandato, Barack Obama havia dito que o objeto mais significativo do Salão Oval era o tapete sob seus pés, feito sob medida em Michigan e decorado com citações de grandes líderes americanos. Entre elas, uma de Martin Luther King que dizia: “O arco do universo moral é longo, mas ele se curva em direção à justiça.”
Pouco tempo depois, quando Trump assumiu o poder e a história americana tomou outro rumo, o tapete foi removido. Em seu lugar, entrou um novo revestimento — naturalmente, em tom de ouro.
Fonte: The Guardian
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